“Vivo na rua há mais de 17 anos. Cheguei aqui tem pouco tempo, mas mesmo assim já me sinto em família. Gosto das atividades que desenvolvo, ajudam a acalmar o meu temperamento que é muito forte”. Foi assim que Erinaldo Sodré, 24 anos, resumiu o seu pouco tempo como participante do Projeto Chalé Literário que é desenvolvido pela Prefeitura de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município (Fumbel), na Biblioteca Municipal Avertano Rocha, localizada no Distrito de Icoaraci.
O projeto Chalé Literário recebe apoio do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) de Icoaraci, oferecendo atendimentos com psicólogos, assistentes sociais, além de realizar oficinas que envolvem jogos educativos, ajudando na reinserção dessas pessoas na sociedade.
Desde o último dia 8 de junho, tem se destacado na programação do projeto, a oficina de “Boi Paraense na Casa de Santo Antônio”, que recebe pessoas de diversas idades, nos turnos da manhã e tarde.
“Recebemos o apoio da Funpapa e do Cras, Centro de referência da assistência social. Dessa forma, conseguimos trabalhar com pessoas que estão em situação de rua e inseri-los em toda a programação cultural realizada aqui. Como estamos em junho, época de São João, estamos nos preparando para sair em cortejo com o boi paraense”, afirmou a diretora da biblioteca Avertano Rocha, Socorro Baia.
A oficina do boi paraense segue até o dia 26 deste mês, oferecendo atividades como, customização das roupas a serem usadas pelos personagens e curso de música. Toda essa preparação tem um motivo especial, nesta sexta-feira, 19, o boi paraense sairá em cortejo pelas ruas do entorno da biblioteca.
A faixa etária dos participantes varia entre 20 e 35 anos, bem como, o fluxo de participantes da oficina. “Em média, no Centro Pop, atendemos 30 pessoas. O nosso intuito aqui é dar suporte para que elas resgatem o direito a cidadania”, afirmou a educadora social do Centro Pop Icoaraci, Tânia Lira.
O boi paraense já está com quase tudo pronto para ganhar as ruas do distrito. E a obra-prima é criação dos próprios participantes. “Desde o dia 8 eles marcam presença na oficina. Trabalhar com essas pessoas exige que você se desprenda de muita coisa, sobretudo, do preconceito. Eles também são cidadãos e precisam resgatar seu valor próprio”, afirmou a pedagoga Selma Ferreira, de 45 anos.
O encerramento da programação acontece no dia 26 de junho com o Arraial da Leitura, que vai reunir Boi Paraense, o coral da Escola de Música de Icoaraci, o grupo cultural Capes – Icoaraci e quadrilhas juninas.
“O nosso Boi Paraense foi premiado em 2014 pelo Ministério da Cultura, por conta das boas práticas e inovação em bibliotecas públicas, fomos contemplados dentre as 60 iniciativas de todo o Brasil. É uma experiência indescritível. Essas pessoas perderam o seu referencial de vida, e aqui eles trabalham a sua autoestima para voltarem a integrar a sociedade que, hoje, segundo eles, os considera como seres invisíveis”, destacou a diretora da biblioteca.
Texto: Edson Oliveira
Foto: Oswaldo Forte
Coordenadoria de Comunicação Social (COMUS)