Santo Alexandre
"A Igreja de Santo Alexandre é o maior monumento Jesuíta da Região Norte do Brasil e sua construção é testemunho da aplicação dos princípios da Contrarreforma nas construções da Ordem, sendo o objetivo da Companhia a doutrina e a catequese, a igreja devia ser ampla a fim de abrigar número crescente de convertidos e curiosos e localizada de preferência em frente a um espaço aberto ? um terreiro ? onde o povo pudesse se reunir e andar livremente", diz Lúcio Costa. A ideia de um número de fiéis que deveria crescer e se ampliar explica a transferência do local primitivo, perto das Mercês, afastado do centro de poder e pouco atrativo.
Igreja ampla, robusta, Santo Alexandre tem um partido em nave única, servindo para envolver e encantar o povo, que abrange com o olhar toda a extensão do templo e ao mesmo tempo vai sendo subjugado pela imponência e riqueza de sua decoração.
A planta da nave tem a forma de cruz latina com capelas comunicantes, três a cada lado, definidas por arcos redondos que se apoiam em pilastras.
Sobre os arcos abrem-se as tribunas, estas com balaústres de madeira. Os retábulos seguem o estilo D. João V, sendo que os três à esquerda são originais, e os outros três, cópias em argamassa. Myriam Ribeiro identifica elementos característicos desse estilo, como o dossel de coroamento com monumentais volutas laterais, e chama a atenção para reaproveitamentos prováveis de retábulos de períodos anteriores nas colunas torças e nos pássaros fênix, cuja origem está no estilo nacional português. As imagens que hoje compõem a parede do transepto pertenceram aos retábulos e figuram Santo Alexandre, São Miguel e São Bartolomeu.
O retábulo do altar-mor, segundo a mesma autora, é posterior aos demais e marcado pelo número e volume das figuras e ornamentos, assim como pelos recursos de perspectiva usados para sugerir um movimento em ascensão, acentuado pela forma levemente côncava do altar. Colunas salomônicas, anjos com braços abertos, atlantes, guirlandas de flores, grandes concheados e, no centro da composição, anjos que sustentam o escudo de armas dos jesuítas, encimado pelo baldaquino com cortinados, completam o efeito dinâmico e espetacular da obra.
Na magnífica nave são notáveis ainda os dois púlpitos de madeira em forma de pirâmides invertidas e de decoração abundante. A junção de conchas, volutas com anjos, atlantes e figuras de olhos vendados, com símbolos da Ordem e da Fé, dão aos púlpitos características únicas entre as igrejas do Pará.
Merecem ser vistas as pinturas que existem na sacristia e no consistório. As cores vibrantes, os desenhos em arabescos florais, os grandes serafins fazem da sacristia um dos mais representativos espaços da doutrinação jesuíta pelo uso da imagem. O retábulo, que mantém seus douramentos, une colunas torças decoradas com folhas e frutos de parreira a elementos da cultura clássica, como as folhas de acanto.
A Igreja de Santo Alexandre hoje faz parte de um conjunto de espaços museológicos e se une ao antigo colégio (depois arcebispado) para mostrar as peças religiosas mais importantes da memória colonial. Destacam-se no Museu de Arte Sacra os anjos tocheiros, oitocentistas, que antes guardavam a entrada do altar-mor. Nesse conjunto excepcional de igreja e colégio jesuíta impressiona o contraste entre a decoração das fachadas, simples, fora de escala e quase brutal, como disse Lúcio Costa, com a exuberância decorativa dos ambientes internos.
Fontes:
www.iphan.gov.br
Livro "Igrejas de Belém" do historiador paraense Ernesto Cruz.